Todos nós temos o desejo à grandeza. Isso por si só não é mal, ao contrário, é saudável e nos mantem vivos, vibrantes, ativos. No entanto, quando analisamos pessoas que chegaram à fama, ao sucesso, ao topo, não raro, descaracterizam-se, desvirtualizam-se, e, pasmem, desumanizam-se tornando outra pessoa, fato que atesta que, de modo geral, não temos estrutura para a grandeza. Às vezes, um carro novo, uma casa nova, uma promoção no emprego, a mudança para uma cidade maior, uma graduação destas de prestigio (medicina, engenharia, direito), um doutorado, um MBA faz a pessoa se perder e expressar um orgulho presente na alma humana e que estava lá, camuflado, na simplicidade que a vida lhe apresentava outrora.
Não obstante, nos programas de TV, rádio e mídias digitais, verifica-se que, aos poucos ou muito mesmo, a imagem da pessoa é construída artificialmente. Ela se apresenta como boazinha, usa a pobreza e situação vulnerável dos necessitados para garimpar recursos financeiros para mudar aquela situação e, o faz tudo coberto por flashes e lentes dos aparelhos de última geração. Deste modo, não é descompostura as pessoas perguntarem aos mais próximo: “Quando está fora do ar fulano é assim mesmo? Ele é como na TV?
Pois bem, quando pensamos em igreja/vida com Deus, caminhada cristã, tais premissas, também, são mensuradas. É de nossa natureza o desejo de grandeza. Assim, na vida espiritual, também, queremos a grandeza e muitas vezes nos apossamos do espirito da torre de babel (façamos uma torre que toque ao céu que tornemos nosso nome célebre, Gn 11.4) e construímos, artificialmente, nossa imagem de homem de Deus, com contornos de propaganda, marketing, comercial.
A leitura do livro do profeta Isaías, registra-se, capitulo um e seis, acenda a luz amarela/vermelha em minha caminhada com Deus. Sei, sim, que tal caminhada deve ser, primeiramente, de crescimento para baixo (raiz) e não para cima, para fora (caule, folhas, beleza). Sou imensamente advertido pela SAGRADA ESCRITURA a julgar, criteriosamente, minhas motivações do que faço e como faço na vida espiritual. O altar de Caim descortina-se como sinal de transito para eu olhar e fazer uma AUTO ANÁLISE de minha adoração. Caim, me aponta o relato bíblico, queria o bônus da grandeza, mas sem pagar o ônus. Para Caim, Deus só se importa com o fim, os meios, não. Resultado, foi Reprovado por aquele que a tudo vê, tudo avalia (AVALIAÇÃO do ALTO)
Nesta perspectiva, os relatos bíblicos me provam que somos muito mal em AUTO ANÁLISE, como assegurou o pastor Diel Machado no encontro SEPAL 2019. Sim, muito mal. A visão humana, marcado pelo pecado, traz consigo as marcas de satanás, da grandeza sem raiz espiritual, que, digamos, é vereda para a queda. Lembro-me quando o nosso Senhor foi tentado, satanás o levou ao pináculo do templo e ofereceu grandezas sem fim: Fama, poder e riqueza, base dos meus desejos mais profundos. Quem não quer fama, sucesso, poder e dinheiro? Assim, é necessário submeter o coração àquele que sonda as profundezas e porões de nossa alma, com vistas a buscar ajuda para a mortificação dos mais malignos desejos desta grandeza SEM RAIZ.
No tempo de Uzias, rei de Judá, o povo desfrutava de uma paz e prosperidades, pouco visto na história do povo de Deus. O livro das crônicas registra, em detalhes, o estilo de vida deste monarca e seus súditos. Sucesso (bênção) era a marca visível de norte a sul, de alto a baixo. Isso, certamente, fez crescer o espírito de altivez no coração daquele povo, algo incompatível com o altar divino. Sabemos que, biblicamente, é o altar e minha vida com Deus é quem deve projetar meu estilo de vida pública. No entanto, o que se vê no livro em questão é que o povo fez, justamente, o contrário. O SENHOR, que esquadrinha corações, que olha primeiro para as profundezas da alma, que não se impressiona com minha performance, desenvoltura, brilho, confete, etc.. Não, jamais. A AVALIAÇÃO DO ALTO, tem outros sistema de axiomas, valores, princípios. O Senhor, então, vai na gênese da alma, o altar/adoração e lá escrutina os corações. Veja como acontecia o culto na visão humana (Isaías 1.11-14)
Multidão de sacrifícios; holocaustos de carneiros; holocaustos da gordura de animais cevados; sangue de novilhos, sangue de cordeiros; sangue de bodes; ofertas; o incenso; festa de luas nova; sábados; convocação de assembleias; ajuntamento solene. São quase quinze maneiras de adorar. Convém notar a correria, os ensaios, a energia, o recurso financeiro e humano para fazer estes cultos. Ao olhar humano tudo lindo, perfeito, irretocável, glamoroso, mas o SANTÍSSIMO desce e, com seus olhos de fogo, vem, confere tudo (AVALIAÇÃO DO ALTO) e dá seu diagnóstico: Tudo de fachada, tudo de aparência, tudo cheirando a propagando, comercial. Tudo feito artificialmente. Uma simples pergunta, feito pelo Divino, expõe as raízes e alicerces desta adoração mecânica, maquinalmente construída: “Quando vindes para comparecerdes perante mim, quem requereu de vós isto, o só pisar os meus átrios? (Isaías 1.12).
O cenário de lá se transporta pra cá. E vou logo clamando, misericórdia de mim meu Senhor, pois em tempos de likes, seguidas e curtidas, quantas vezes faço coisas na igreja e posto buscando reconhecimento e grandezas humanas? Quantas vezes estou mais preocupado em receber elogios, “foi bom, foi maravilhoso”, como chancela de minha performance? Quantas vezes o meu fazer/servir na igreja não é uma construção humana, desprovida da vida interior enraizada no temor divino? É pra pensar e pensar muito.
Deus, misericordioso, queria corrigir este tipo de adoração. Para isto levanta o profeta Isaías. Assim, o primeiro ato que ELE faz é CORRIGIR a VISÃO DA TERRA, (rei Uzias) presente no profeta e sedimentar a VISÃO do ALTO (céu). Deste modo, em Isaías 6, Uzias morre, talvez como sinal, metáfora, deste estilo de vida, que no meu entender, deveria ser sepultado. Neste aspecto, na terra Isaías tem sua visão e mente marcadas com a gloria do palácio do rei Uzias, daí, então, o Senhor mostra ao novel profeta seu TRONO DIVINO. Ali o Senhor dos Exércitos, (nome este que contrasta com o poder do único exército de Uzias, que, diga-se de passagem, muito bem equipado, do monarca) está assentado num alto e sublime trono, enquanto na terra o trono do palácio está vazio. No céu o trono está, sim, ocupado e com majestade inenarrável, denotando, assim, que o Senhor tem controle absoluto do universo e não apenas de um pedaço de terra ou nação. Na terra há morte, choro, lágrimas, desesperança, incerteza; no céu há vida, onde os serafins voam de um lado para o outro exaltando a santidade (três vezes) do Senhor dos Exércitos. Na terra a fama, sucesso, esplendor e gloria palaciana estão no caixão à espera de uma pá de cal, como ponto final. No céu e também na terra, o profeta vê que todo o globo está coberto da gloria do Altíssimo: “Toda a terra está cheia de sua glória” (Isaías 6.3)
Ah!, meu Senhor, como é maravilhoso quando a vida me/nos permite RECOMEÇAR e voltar aos trilhos. Esta MINHA gênese de gloria humana em detrimento da divina presentifica-se desde o Éden. O meu ser brama pelos holofotes, curtidas, likes e selfies. Observo que neste pantanoso terreno sempre encontro solo fértil para incrementar estes desejos mais sórdidos desta busca escamoteada no divino, no sagrado. A história bíblica me adverte que, historicamente, meus pares compareceram ao altar divino com maestria singular. Refiro-me, é claro, a esta ânsia de engrandecimento pessoal disfarçado de falsa humildade, falsa piedade, de fazer as coisas para o Senhor, mas sem motivação divina de engrandecer ao altíssimo pelo que ELE é. Assim, o meu coração sente cócegas, agita-se, debate-se, angustia-se, turba-se quando o reconhecimento não é registrado, anotado, curtido, compartilhado. Sim, o registro bíblico toma assento na cadeira de mestre e me mostra/ensina que a fileira é espessa: No Éden, Adão atende ao apelo satânico de ser igual a Deus, fracassou e, habilidosamente, se esconde; Caim, assassina seu irmão no altar, porque sua oferta foi preterida, foge; Açã, o guerreio, comete pecado ao buscar o poder resultante do ouro; Geazi, discípulo de profeta, mente em nome de Eliseu e vai buscar o ouro. Tiago e João, participes do colégio apostólico, desejam a presidência e vice no ministério apostólico, e, finalmente, Ananias e Safira desejaram, máquina e teatralmente o reconhecimento resultante da oferta da venda da propriedade. Foi morte e sepultado para nascer a verdade divina.
“Miserável homem que sou”, diz o apostolo Paulo à capital do império, morada do rei da terra (Rm 7.24). Gracioso é nosso/meu Senhor que nos resgata, lava, limpa, purifica nossos olhos, mente e coração. Assim ELE fez com Isaías. Não disse uma palavra sequer. Não, nenhuma. Apenas mostrou quem ELE era. Mostrou seu trono cheio de glória e graça. Apenas pediu para o profeta CONTEMPLAR sua GLÓRIA e SANTIDADE. Foi, justamente, esta contemplação do sagrado, do santo e da glória que corrigiu a visão contaminada pelo poder da terra.
Hoje, certamente, não é diferente. Muitos se AUTO denominam pastores, bispos, levitas, apóstolos, rei. Quase ninguém quer ser servo. O velório de Uzias é um convite a reflexão (AUTO VISÃO), é também, um termômetro que me ajuda a aferir meu grau de febre desta busca de gloria humana em detrimento da divina usando o serviço sagrado. A lápide de Uzias me aponta que o SENHOR tudo vê, sonda coração, e usa, justamente, o poder, a benção, a posição social como instrumento de RAIO X para me mostrar (VISÃO DO ALTO) que ELE é o REI DOS REIS e SENHOR dos senhores.
ISTO POSTO, e no dizer bem paulino: “Ora ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre, Amem (1Tm 1.17). Isso é adoração com a VISÃO do ALTO. Viva o rei, o REI dos reis, é claro.
Créditos: Luís Carlos, pastor da Igreja Batista Memorial em Aiquara - BA
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